Quatro mensagens do último relatório do Painel do Clima da ONU para instituições financeiras
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é a maior autoridade científica no tema e consiste em um comitê de cientistas de diversos países que avaliam e compilam todo o conhecimento científico em mudanças climáticas. Além de divulgar o estado mais atualizado da ciência climática global, os trabalhos do IPCC servem de base para determinar o avanço de políticas internacionais e nacionais sobre clima. Em 2007, o comitê recebeu o prêmio Nobel da Paz, como reconhecimento de sua contribuição para a humanidade.
Periodicamente, o comitê publica os Relatórios de Avaliação, que são divididos em três volumes: Causas físicas; Impactos, vulnerabilidades e adaptação; e Mitigação (soluções). A mais nova publicação foi lançada na última segunda-feira (04/04/22) e consiste no volume III – Mitigação, do 6º Relatório de Avaliação, que possui um capítulo específico para Investimentos e Finanças (capítulo 15). Destacamos, abaixo, algumas das principais mensagens deste capítulo:
1- Os investidores, os bancos centrais e os reguladores financeiros estão aumentando a conscientização sobre os riscos climáticos.
No entanto, os riscos financeiros climáticos continuam muito subestimados por instituições financeiras e mercados, limitando a realocação de capital necessária para a transição para o baixo carbono. Há poucas evidências de que a atenção a esse tema por tais atores tenha afetado diretamente as emissões reduções, o que resulta em alta incerteza, tanto a curto prazo (2021-30) quanto a longo prazo (2021-50), sobre a viabilidade de um alinhamento dos fluxos financeiros com o Acordo de Paris.
2- Existe uma lacuna de financiamento climático que reflete uma persistente má alocação de capital global no alinhamento dos fluxos financeiros com as rotas de baixas emissões.
Isso é especialmente verdade para os países em desenvolvimento. O financiamento em pesquisa e desenvolvimento e capital de risco para o desenvolvimento de novas tecnologias e modelos de negócios, que possuem um papel crucial para facilitar o desenvolvimento de financiamentos climáticos em escala, também são frequentemente negligenciados.
3- A implementação relativamente lenta dos compromissos assumidos pelos países e partes interessadas no sistema financeiro para aumentar o financiamento climático não reflete a necessidade urgente de uma lógica econômica para ação climática ambiciosa.
A maior urgência também reduz os prazos para construir confiança nos marcos regulatórios. Consequentemente, muitas decisões de investimento precisarão ser tomadas com base nos objetivos globais de longo prazo. Isto destaca a importância da confiança na liderança política que, por sua vez, afeta a percepção de risco e, em última instância, os custos de financiamento.
4- Abordagens inovadoras de financiamento poderiam ajudar a reduzir a subvalorização sistêmica do risco climático nos mercados e fomentar a demanda por oportunidades de investimento alinhadas ao Acordo de Paris.
Estas abordagens incluem o de investimentos de risco, desenvolvimento robusto de produtos "verdes", além de uma regulamentação focada na transparência e na reforma da regulamentação do setor financeiro e do sistema monetário internacional. O apoio e a orientação para aumentar a transparência podem promover o financiamento climático dos mercados de capitais, fornecendo informações de qualidade para precificar os riscos e oportunidades relacionados.
Políticas de mitigação também serão necessárias para:
- Aumentar o retorno ponderado de risco das alternativas de baixo carbono e resilientes ao clima;
- Acelerar o surgimento e o apoio a produtos financeiros baseados em projetos na economia real (ex.: títulos verdes), com progresso em métodos de avaliação de projetos transparentes e baseados na ciência;
- Eliminar gradualmente os subsídios aos combustíveis fósseis.
Mais parcerias público-privadas também podem incentivar o setor privado a aumentar e ampliar os investimentos, dentro de um contexto de salvaguardas e normas, incluindo nas políticas e planos nacionais de mudança climática.
Diante deste cenário, o CDP vem trabalhando com seus investidores signatários para direcionar o capital para uma economia alinhada ao Acordo de Paris: fomentando a transparência, por meio do incentivo às divulgações ambientais (disclosure), integrando dados climáticos nas tomadas de decisões de investimentos e engajando investidores com empresas.
Saiba mais sobre nosso trabalho com investidores em: https://www.cdp.net/pt/investor e confira mais detalhes sobre o 6º Relatório de Avaliação no site oficial do IPCC.